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Sant’Ana, tradição e culto

Padre João Medeiros Filho

A devoção a Sant’Ana está entre as mais antigas tradições católicas. Detém grande popularidade entre os fiéis cristãos. Por ser a genitora da Mãe de Cristo, lhe são atribuídos vários privilégios, como obter rapidamente favores celestiais. Ela intercede na condição de avó “Daquele que faz maravilhas” (Sl 136/135, 4). No Brasil, a devoção se espalhou durante o período colonial, graças à veneração da corte portuguesa. O garbo e esplendor do barroco proporcionaram belas esculturas de Sant’Ana que hoje adornam imponentes altares de nosso país. 
No Oriente, o culto à mãe da Virgem Santíssima é antigo, consolidando-se no século VI. No Ocidente, introduziu-se anos depois. Em 1584, o Papa Gregório XIII fixou a data de 26 de julho para sua festa litúrgica. A devoção à esposa de Joaquim era tão forte entre os fiéis, a ponto de lhe concederem o título de “Senhora”, outorgado pela tradição à Virgem Mãe de Deus. Muitos católicos passaram a chamá-la de “Nossa Senhora Sant’Ana”. Assim é cultuada, especialmente, no Seridó potiguar. Em 710, as relíquias da avó de Jesus foram levadas de Israel para Constantinopla e posteriormente distribuídas para várias igrejas. A maior delas ficou num santuário que lhe fora dedicado, em Düren (Alemanha). Há poucos dados históricos comprovados a respeito dos pais de Maria de Nazaré. As referências sobre eles chegaram até nós por meio do Protoevangelho de Tiago, um livro que data provavelmente do primeiro século do cristianismo. Apesar de não integrar os evangelhos reconhecidos como oficiais pela Igreja, trata-se de importante obra histórica. É citado em diversos escritos da Patrística Oriental, como os bispos Epifânio de Salamina e Gregório de Nissa. 
O nome Ana deriva de “Hanna” (hebraico), cuja etimologia é graça divina, Deus tem misericórdia. Era descendente da família de Aarão e seu esposo Joaquim, da estirpe real de Davi, cujo nome bíblico significa: “confirmado por Deus”. Nesse casal encontra-se parte da nobreza da genealogia de Cristo. Ana casou-se jovem como toda moça de seu tempo. A tradição diz que seu marido era um homem de posses e bem situado na sociedade, relacionando-se com pessoas de todo Israel. Frequentavam as cerimônias e festas do Templo de Jerusalém. Ali, ao lado da Piscina de Betesda, está situada uma basílica, em honra à mãe da Virgem Imaculada.
Há relatos de que Sant’Ana era estéril. Não conseguia engravidar, decorridos anos de casamento. Os conhecimentos científicos de então imputavam a esterilidade somente às mulheres. À época, eram consideradas não abençoadas por Deus. Consequentemente, o casal sofreu humilhações, sendo censurado pelos sacerdotes por não gerar filhos. Isto fazia com que ambos padecessem muito. Entretanto, eram pessoas de profunda fé e confiavam em Deus, apesar de todo o sofrimento. Joaquim resolveu retirar-se para o deserto a fim de rezar e fazer penitência. Nessa ocasião, um anjo lhe apareceu e disse que suas orações foram ouvidas. Igualmente, o mensageiro celestial visitou sua esposa, confirmando que as preces do casal haviam sido atendidas. “Ana, teu choro foi ouvido. Conceberás e darás à luz e por toda a terra tua descendência será lembrada”, disse-lhe o arauto divino. Assim, pouco tempo depois, Ana engravidou. Através das provações, Deus estava preparando o lar para o nascimento de Maria, a Virgem pura, isenta de pecado. 
Segundo algumas fontes, no dia 8 de setembro entre os anos 20-16 A. C., nasceu uma linda menina, à qual deram o nome de “Miriam”, que em hebraico significa Senhora da Luz. A Mãe do Salvador foi concebida por aquela que todos diziam ser infértil. Os pais de Nossa Senhora são de fundamental importância na história da salvação, não apenas pelo nascimento da Corredentora, sobretudo pelas virtudes e educação da futura Mãe do Redentor do Mundo. Os genitores de Maria Santíssima são um exemplo de fé profunda, acreditando que “para Deus nada é impossível” (Lc 1, 37). Sua vida e exemplo mostram-nos o poder e a força da oração. A prece não é nenhum monólogo. “Pedi e vos será dado, procurai e achareis, batei e a porta vos será aberta” (Mt 7, 7), recomenda-nos o Mestre.